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3.2 - Modelo de Negócio

Na essência, o negócio tradicional de televisão baseia-se na entrega de audiências a anunciantes, ou seja, conquistar audiências através dos programas para a vender a empresas que desejam publicitar os seus produtos e serviços.

Actualmente, podemos distinguir três tipos principais de empresas de televisão:
  • a) Televisões comerciais, que baseiam o seu negócio na comercialização de espaço publicitário;
  • b) Televisões de subscrição, conhecidas como pay-tv, com emissões codificadas, sem acesso livre, cujo modelo de negócio assenta nas subscrições pagas pelos seus assinantes;
  • c) Televisões públicas, pertencentes ao Estado, ou a outras entidades públicas, onde a principal fonte de rendimentos é constituída pelas subvenções pagas pelo Estado.

3.2.1 - Clientes

No modelo de negócio tradicional das televisões comerciais, a venda de espaço publicitário constitui a principal fonte de rendimentos. Muitos canais de televisão cujo modelo de negócio se baseia no pay-tv, ou seja, nos valores pagos pelos subscritores, comercializam também espaço publicitário que, não sendo a sua principal fonte de rendimentos, tem muitas vezes um peso importante. Nos canais de subscrição dos E.U.A, o peso habitual dos rendimentos de publicidade situa-se entre 5% e 10% do total (Bumsted et al., 2008).

Segundo Pringle e Starr (2006), uma estação de televisão comercial serve dois tipos de clientes:
  • Audiências, que assistem à programação sem fazer qualquer pagamento directo pelo produto, ou seja, pelos programas que consomem. A conquista de audiências é habitualmente uma tarefa da direcção de programas da estação.
  • Anunciantes, que ganham acesso às audiências, comprando tempo publicitário, para promover produtos e serviços. A angariação de anunciantes é uma responsabilidade geralmente atribuída à direcção comercial.

Quanto maior o sucesso da direcção de programas em conquistar audiências, maiores serão os rendimentos captados pela direcção comercial. Programas de sucesso atraem audiências, que, por sua vez, atraem anunciantes e geram rendimentos. Quanto maiores os rendimentos, melhores os programas que pode transmitir. A programação e as vendas fazem assim parte de um ciclo que tem um impacto central na saúde financeira da empresa.

3.2.2 - Produto: tempo

O espaço publicitário é vendido em segundos. Tradicionalmente são vendidos spots de trinta segundos, apesar de outras durações serem igualmente usuais. Em Portugal, em 2009, a duração média dos spots publicitários nos canais nacionais de sinal aberto foi de 25 segundos. Em Dezembro de 2009, cada um dos quatro canais de sinal aberto emitiu diariamente uma média 3h46m de publicidade, num total de 467 horas (Marktest, 2010a).

O tempo de emissão é um bem perecível, não pode ser armazenado e depois de "expirado" não pode ser vendido. Esta é uma característica similar a outras indústrias, como o transporte aéreo. Depois de uma viagem os lugares vagos não podem mais ser comercializados.

O tempo disponibilizado para blocos publicitários não poderá ser muito longo, sob pena de saturar e perder a audiência. Além disso, existem em muitos países limitações legais ao número máximo de minutos por hora destinados a publicidade. Em Portugal, a legislação em vigor limita a 12 minutos por hora a publicidade nos canais comerciais e a 6 minutos no primeiro canal do serviço público de televisão da RTP - Rádio e Televisão de Portugal, s.a. (Artigo 40º da Lei nº27/2007 de 30 de Julho; Contrato de Serviço Público de Televisão, Cláusula 23, ponto 1).

Para muitas empresas de televisão dos E.U.A., a programação diurna é a mais rentável. Apesar da menor audiência, os intervalos publicitário são mais longos e o gasto dos programas é relativamente mais baixo (Vogel, 2007).

O potencial de rendimentos de um programa deve ser tido em conta para avaliar o investimento a realizar no programa e a sua colocação em determinado horário. Para avaliar o potencial de rendimentos devem ser considerados os seguintes factores: o número de spots de 30 segundos disponíveis no programa; o preço médio de venda de cada spot no período horário em avaliação - que dependerá do potencial de audiência; o nível de venda, ou seja, a percentagem de spots potencialmente vendidos; as comissões de venda - quando existentes. Tomando como exemplo um programa com seis minutos disponíveis para publicidade e um preço médio de venda de € 400,00 por cada spot de trinta segundos, o cálculo seria o seguinte (Pringle e Starr, 2006):

Preço de Venda € 400,00
N.º de Spots x 12
Receita Bruta € 4.800,00
Comissão (15%) x 0,85
Receita Após Comissão € 4.080,00
Nível de Venda (80%) X 0,80
Receita Líquida € 3.264,00
Tabela 4. - Avaliação do Potencial de Rendimento de um programa. Fonte: Adaptado de Pringle e Starr ( 2006).

3.2.3 - As Audiências

O sucesso de uma estação de televisão, em atrair audiência, ou seja, telespectadores, é mensurado em pontos de audiência (rating). Este apuramento é feito por empresas especializadas, como a Nielsen nos E.U.A. ou a Marktest em Portugal.

Através da colocação de um aparelho que regista o que está a ser visualizado no equipamento receptor de televisão, denominado audímetro, num número de lares determinado e seleccionado, de acordo com as características consideradas relevantes da população, principalmente: idade, sexo, localização geográfica e classe social; é inferida a audiência para o total da população. Os resultados são registados de forma segmentada tendo em conta estas variáveis.

As principais medidas utilizadas pela audimetria são as seguintes:
  • Audiência Média (rating). É a audiência média face ao total da população, ou seja, se um programa ou spot foi visto em média por um milhão de pessoas e o total da população for composto por dez milhões de indivíduos, a audiência média será de 10%. Para o cálculo da audiência média utiliza-se a ponderação do número de segundos que cada indivíduo esteve em contacto com o programa face à sua duração total.
  • Quota de Audiência (share). Esta medida indica a percentagem de indivíduos que viram um programa ou spot, em relação ao total de indivíduos a ver televisão nesse momento. Se metade dos indivíduos que estiverem a ver televisão, qualquer que seja o canal/programa, estiverem a ver o programa y, então esse programa tem um share de 50%.
  • Audiência Total (reach). Esta medida indica a percentagem ou número de indivíduos que contactaram com determinado programa ou spot, pelo menos durante um segundo. Cada indivíduo só será contabilizado uma única vez.

3.2.4 - Modelos de Venda de Publicidade

A publicidade pode ser comercializada em diversos formatos. As seguintes formas são as mais usuais e com maior peso na facturação das empresas de televisão portuguesas:
  • Spot em intervalo - Tradicional spot comercial inserido em blocos publicitários nos intervalos (break) de (ou entre) programas. Este tipo de publicidade representa a maior fonte de rendimentos das empresas de televisão em sinal aberto (exceptuando a RTP - serviço público de televisão, que tem na contribuição audiovisual e na indemnização compensatória as suas maiores fontes de rendimento).
  • Patrocínio - O anunciante patrocina um determinado programa, associando a sua marca/produto ao programa numa referência com a duração de cinco segundos (cartão de patrocínio) e ainda com a colocação de spots nos breaks do programa.
  • Micro-Espaços - Trata-se da promoção de produtos ou serviços dentro de um programa, isto é, inserido no conteúdo do próprio programa e não no intervalo.
  • Colocação de Produto (product-placement) - Esta forma de publicidade consiste na referência a marcas, produtos ou serviços em programas. É habitualmente utilizada em Portugal em novelas ou séries, podendo consistir, por exemplo, na colocação de uma garrafa de determinada marca de bebida numa mesa ou na apresentação de uma cozinha, na qual decorre a acção, e onde são bem visíveis produtos e marcas.

Enquanto as duas primeiras formas são totalmente independentes dos programas e do seu conteúdo, já os micro-espaços ou o product-placement terão de estar completamente integrados no programa, com envolvência na sua produção.

A venda de publicidade é afectada pela sazonalidade. Em Portugal, os meses de maiores vendas são Abril, Maio, Outubro e Novembro. Já as vendas mais fracas registam-se em Janeiro, Fevereiro e durante o período de Verão.

A venda de tempo em breaks para spots publicitários pode ser feita de duas formas:
  • Com base numa tabela de preços, que terá em conta a faixa horária onde o spot será inserido e terá um preço fixo. O preço será fixado previamente e a audiência do spot publicitário não afectará o preço a pagar pelo anunciante.
  • Por negociação considerando um preço por ponto de audiência (CPP - cost per rating point), ou seja, o anunciante irá pagar de acordo com a audiência que o seu spot alcançar. Para além desta variável, a negociação envolverá ainda a parte do dia em que o spot será transmitido e o público-alvo do anunciante, considerando faixa etária (mais frequentemente utilizada), classe social e região. De realçar que o anunciante pagará de acordo com o CPP definido, mas apenas dentro do público-alvo acordado. Um exemplo de negociação poderia ser: período da Manhã; público-alvo com mais de 15 anos e um CPP de €100,00.

A responsabilidade de distribuição dos vários spots que compõem um bloco publicitário é da estação de televisão, no entanto, podem ser pagas taxas de localização pelos anunciantes de forma a assegurar as melhores posições no bloco, respectivamente as iniciais e finais. A empresa de televisão terá sempre o cuidado de não emitir dois spots concorrentes juntos, por exemplo, dois anúncios de operadoras de telecomunicações.

Neste contexto, surge ainda um outro conceito, o GRP - Gross Rating Points - que indica a soma da audiência de todos os spots de uma campanha, por exemplo, se um spot foi exibido 3 vezes durante uma semana, obtendo respectivamente 5%, 7% e 8% de audiência, totalizará 20 GRP's. Os responsáveis pela campanha definem os GRP's a atingir e gerem a colocação de spots de acordo com esse objectivo. O CPP - custo por ponto de audiência - obtém-se dividindo o investimento numa campanha pelos seus GRP's. Este indicador permite comparar e avaliar a eficiência de uma campanha (Vogel, 2007).

Segundo os dados disponibilizados pela Marktest (2009a), em 2008, foram as seguintes as empresas com maior investimento publicitário em televisão em Portugal:



Nos E.U.A, de acordo com a Nielsen (2010a), os sectores de negócio com maior investimento publicitário (tv, rádio e imprensa), em 2009, foram os seguintes:




3.2.5 - Outros Rendimentos

A estrutura de rendimentos das empresas de televisão tem vindo a alterar-se. Apesar da generalidade ser proveniente da venda de publicidade, novas fontes de rendimento têm surgido e aumentado o seu peso. Apresentam-se aqui algumas:
  • Interactividade (participation tv) - Através de chamadas telefónicas de valor acrescentado ou SMS (mensagens curtas), as televisões permitem a participação directa dos telespectadores nos programas, votando ou realizando outras acções. Parte da receita das comunicações é recebida pelas empresas de televisão.
  • Merchandising - Consiste na comercialização de produtos relacionados com programas emitidos pela estação.
  • Publicações - Muitas empresas de televisão, presentes sobretudo em fortes nichos de mercado, como desporto ou infantil, publicam revistas, livros ou guias. Estas publicações podem ainda incluir publicidade.
  • DVD - A comercialização de conteúdos, como séries de sucesso, documentários, telefilmes, entre outros, em DVD (ou outro formato) tem igualmente vindo a ganhar peso.

3.2.6 - Gastos

A maioria dos gastos de uma empresa de televisão está associada às áreas de programas e informação.

Além dos gastos gerais e administrativos, existem gastos comuns a todas as áreas, como salários, instalações, comunicações, software e outros, que por serem semelhantes a qualquer empresa de outra área de actividade, não serão detalhados. Os principais gastos relativos às áreas core de uma empresa de televisão são as seguintes (Bumsted et al., 2008):



Numa empresa de televisão os gastos operacionais são relativamente fixos, assim, a chave para o aumento da rendibilidade está no crescimento dos rendimentos. Se a procura pelo espaço publicitário aumentar, o preço dos spots aumentará, mas os gastos manter-se-ão, desde o custo do programa aos gastos associados à transmissão. Isto aplica-se numa lógica de curto-prazo. Não significa isto que os gastos operacionais devam ser descurados, pois a rendibilidade de longo-prazo dependerá também da evolução nas despesas associadas às áreas administrativas e de suporte (Vogel, 2007).

De acordo com Vogel (2007), a repartição típica dos gastos de uma estação de televisão será a seguinte:



O investimento nos diferentes géneros de programas é também variável. Tomando por exemplo as três maiores empresas de televisão norte-americanas, o investimento em notícias/informação é de aproximadamente USD $500 milhões/ano. Novelas para o período diurno podem ser produzidas por cerca de USD $150.000 por cada meia hora ou USD $200.000 por uma hora; concursos e talk-shows requerem um investimento muito menor; nas séries de horário nobre o investimento ascende a 1,5 milhões de USD por hora; a produção de reality-shows é também relativamente barata de produzir (Vogel, 2007).

No que respeita ao controlo de gastos, a realização de orçamentos detalhados e a análise da sua execução ao longo do ano será um passo fundamental para a identificação de desvios e para a adopção de medidas correctivas. A centralização de operações, minimizando o investimento e os gastos operacionais poderão também contribuir para uma redução de gastos (Bumsted et al., 2008).

 
Projecto Mestrado
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Modelo Reporting TV
Modelo de Reporting Financeiro por Segmentos para TV - Anexo do projecto.

Apresentação Projecto
Apresentação do Projecto.




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